Diversidade na escola

Em 2001, foi lançado um documentário chamado “Promessas de um Novo Mundo”, que conta a história de sete crianças israelenses e palestinas.

O filme revela que o ódio passado de geração em geração criou um precipício entre as crianças que moram na região, separadas por suas crenças religiosas, por muros e por barreiras com soldados armados. Porém, ao proporcionar o encontro entre pequenos palestinos e judeus, os diretores do filme mostraram que, em algum momento, a intolerância pode ser questionada – e, quem sabe um dia, vencida – pela lógica simples das crianças.

O mais lamentável, porém, é observar a angústia, o ódio e as dúvidas criadas na cabeça de seres humanos tão jovens. Um deles disse: “Eu sinto tanta raiva que parece que meu coração vai explodir”. Com 8 anos de idade, esse menino deveria estar preocupado com o resultado do futebol, com a lição de casa ou com o que tem de gostoso no jantar.

Perceber que a intolerância – em menor ou maior grau – é fruto de construções sociais e que é algo transmitido pelos adultos é fundamental.

É certo que vivemos em um país multicultural, que acolhe pessoas do mundo inteiro e que é formado pela rica mistura entre povos e culturas.

No entanto, saber trabalhar a diversidade na escola é premissa para qualquer instituição que preze o desenvolvimento pleno de seus estudantes. É também dever de todos consolidar cada vez mais valores como respeito e tolerância, para que nossa sociedade nunca corra o risco de tornar-se berço da discriminação.

Por isso, no Colégio São Judas Tadeu, a primeira palavra que se diz a todo e qualquer estudante – e seus familiares – é “bem-vindo”. Por princípio, a escola é um lugar para todos e para todas.

Aprendendo a lidar com a diversidade cultural na escola

É no ambiente escolar que, desde cedo, as crianças estabelecem relações afetivas e sociais que muito contribuirão para sua formação como adultos e cidadãos.

É justamente por isso que existe uma forte preocupação dos educadores para garantir um lugar de respeito e de acolhida. Isso não significa ser apenas um ambiente bacana, como o clube ou a casa da avó. Afinal, o objetivo primeiro da escola é o aprendizado de seus alunos.

No segundo semestre de 2009, os jovens Diogo Joaquim Moreira, de 10 anos, e Rute Moreira, de 15 anos, chegaram de Portugal e foram matriculados no Colégio São Judas.

A mãe deles, Maria Isabel Carvalho Moreira, conta que, no início, temia que os filhos não se adaptassem.

“Isso passou logo na primeira visita ao colégio. Na entrevista com a escola, notei que meu filho ficou muito à vontade. Fiquei tranquila com o modo como ele foi tratado. Nós íamos visitar mais uma escola naquele dia, mas o Diogo não quis nem saber. Disse que era ali que queria estudar”, lembra Maria Isabel.

Os colegas de classe de Diogo também foram muito acolhedores. “Foi estimulante para a turma. Apesar de falarmos o mesmo idioma, o sotaque e a diferença no vocabulário tornavam difícil a compreensão do que ele falava. Isso deu pano pra manga. Eles passaram a conversar sobre palavras e expressões de cada país e suas diferenças e a falar sobre as brincadeiras das crianças portuguesas”, conta a professora do Diogo no 5º ano.

Tímido, o menino não permitia que a professora o abraçasse ou beijasse para cumprimentá-lo, como faz com toda a turma.

“No fim do ano, fizemos um amigo secreto de chocolate. Foi muito bonito, pois ele permitiu contato físico e se mostrou à vontade. O Diogo está feliz e vai muito bem nas aulas”, afirma a professora.

“Quando eu soube que a gente viria para o Brasil, achei ótimo. Eu estava curioso, mas fiquei mal por ter de deixar meus amigos”, conta Diogo.

“No primeiro dia de aula, fiquei um pouco nervoso. Minha outra escola era menor e o Colégio São Judas é enorme. Mas logo me enturmei”, conta.

A socialização e o bem-estar do aluno são fundamentais. No entanto, como já dito, o objetivo primordial da escola é o compromisso com o aprendizado dos alunos.

“Nossa expectativa como pais era que as matérias dadas fossem da melhor qualidade possível, bem como o preparo dos docentes. Estamos satisfeitos porque, apesar de no Brasil a carga horária ser metade da carga da Europa, notamos que os conteúdos passados nesse primeiro semestre de aulas foram consistentes”, afirma o pai Joaquim Jorge Oliveira Moreira.

O casal tem, além de Diogo e Rute, uma filha universitária que estudou na Inglaterra.
Para que Rute (que na época estava matriculada no Ensino Médio), pudesse seguir os passos da irmã, a família levou em consideração a qualidade do ensino, que, segundo eles, deveria estar no mesmo nível da educação européia.

A família portuguesa explorando o Museu do Ipiranga

Para a jovem, a mudança não foi nada fácil. Mas ela também adaptou. “O mais difícil foi deixar meus amigos. Fiquei bem triste. Mas estou bem nas aulas e já até tenho três amigonas, que me ajudam no que eu preciso e me explicam tudo sobre a cidade, o jeito de falar e os hábitos”, conta.

Idiomas diferentes não devem ser uma barreira

Diferentemente da experiência dos dois jovens portugueses, que se mudaram para um país com o mesmo idioma, duas pequenas gêmeas chinesas precisaram de um pouquinho mais de tempo para se adaptarem. Mas não pense que o idioma foi um problema.

A professora, que deu aulas para as duas em 2009 no 2º ano, contou que a presença das meninas foi enriquecedora.

“Foi o primeiro ano delas na escola. No começo, as garotas da turma escreviam bilhetinhos para elas em português, com desenhos. Com o tempo, as duas começaram a fazer seus textos em chinês e, depois, já arriscavam escrever em português também”, conta.

Isso fez com que as irmãs acompanhassem muito bem as aulas.

No fim do ano, naturalmente, elas tiveram mais dificuldade com a escrita, mas o rendimento escolar foi excelente, segundo a educadora.

Como os pais das meninas também estão há pouco tempo no país, a professora adaptava os bilhetes que lhes enviava para facilitar a compreensão, usando números, desenhos e símbolos.

Quando necessário, a mãe comparecia na escola com o tio das meninas, que atua como tradutor. E assim o trabalho pedagógico caminhou, sem atropelos.

Os docentes atuam na perspectiva da solidariedade e do respeito às diferenças.

“Uso as oportunidades que surgem em sala de aula, não só com as meninas, mas com os demais alunos, para tratar de questões como qualidades e limitações de cada um, mostrando que todos nós precisamos de ajuda e podemos ajudar”, conta a professora das gêmeas chinesas.

“Não coloco o foco apenas nelas. Mostro que diferente todo mundo é, seja na constituição familiar, no idioma, na religião, no pensamento, na cor ou na escolha do time de futebol”, explica.

Para isso, segundo a professora, é preciso estudar, ter um número adequado de alunos por sala e conhecer bem o processo de alfabetização das crianças para garantir o aprendizado.

Ter esse cuidado ao abordar as diferenças é importante para não reduzir a questão apenas à origem geográfica ou a um outro fator qualquer.

Quando um aluno não participa dos festejos de Natal porque isso não é tradição em sua religião, por exemplo, o educador pode incentivar a troca de informações entre os alunos. Mas não colocando aquele aluno específico na posição de diferente dos demais. O trabalho é incentivar que ele fale de algo natural em sua vida, sendo que os demais também podem fazer o mesmo. Simples assim.

Lidando com o preconceito na adolescência

Se com crianças menores os assuntos sobre diversidade aparecem naturalmente nas brincadeiras e nas conversas, já entre os adolescentes a questão é mais delicada.

A vergonha e a timidez, típicas dessa etapa da vida, requerem dos educadores estratégias diferentes para a abordagem em sala de aula.

Uma professora de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II, explica que para lidar com a diversidade cultural na escola, usa textos e filmes para tratar de questões como respeito e aceitação das diferenças.

Ela tem, por exemplo, alunos cujos pais são de origem grega, japonesa, libanesa… Nos 34 anos em que leciona na escola, pelas suas mãos já passaram estudantes de várias origens, etnias, classes sociais e religiões. E ela afirma que, com adolescentes, não adianta dar sermão.

Por isso, utiliza textos e filmes e provoca, em seguida, reflexões entre os alunos. Quando é preciso, ela compara o que foi visto com situações e atitudes do cotidiano para que cada um pense sobre suas ações e possa construir uma conduta ética e pacífica para sua vida.

1 Comentário
  • Ricardo Colatto
    Postado às 11:07h, 25 setembro Responder

    O Mundo está cada vez mais globalizado. A pluralidade cultural já é uma realidade muito bem consolidada em todas as grandes cidades e em muitas das pequenas também!

    A criança precisa, desde cedo, aprender que o diferente é bom. Que o novo é bem vindo. Que o estranho pode ser enriquecedor!

    A criança é curiosa ao natural. O adulto é que os tornam preconceituosos. Se bem trabalhada desde cedo, a diversidade cultural será bem vinda pela nossa futura geração de líderes que estamos formando!

    Temos um pequeno texto sobre o assunto em nosso blog que pode ser um bom complemento aos leitores interessados:

    https://rcreborn.com.br/diversidade-cultural-na-escola/

    No mais, parabéns pelo artigo e por trazer um assunto que cada vez mais precisa ser abordado com carinho e trabalhado com naturalidade!

    Att

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