Desafio da educação nas escolas

Até bem pouco tempo, ter acesso à informação e ao domínio das tecnologias era o caminho certo para garantir o sucesso profissional.

Para alguém “dar certo”, era necessário ter vastos conhecimentos técnicos, científicos e acadêmicos e pouco se falava em termos como afetividade ou inteligência emocional. Nos últimos anos, porém, a história vem mudando.

O desafio da educação

De que adianta, afinal, um diretor de empresa muito competente na área técnica, mas que não sabe conduzir os subordinados, humilha as pessoas ou não sabe ouvir? Ou, o contrário: alguém igualmente capaz, mas que não consegue colocar em prática suas ideias porque não se organiza ou não sabe defender o que pensa?

Outra questão que se coloca nesse complexo meio de campo é: ser feliz é só ter sucesso profissional? Pode até ser, desde que isso seja algo claro para o indivíduo. Afinal, o mundo é cheio de possibilidades e de escolhas.

O desafio de educar os jovens mudou. Antes, havia um roteiro que a família e a escola traçavam como ideia de sucesso e de felicidade (reflexo, claro, da sociedade em que vivíamos). Agora, é preciso mostrar que quem escreve a própria história é cada um de nós. Mas só sabe escolher bem aquele ser humano que, em primeiro lugar, conhece a si e, em segundo, se sente seguro para buscar aquilo que almeja.

Todas essas mudanças no modo como o mundo – pessoal e profissional – funciona gera muitas dúvidas para os jovens, que estão decidindo o rumo que darão a suas vidas, e para os pais, que querem sempre o melhor para os filhos. Afinal de contas, todo mundo quer ser feliz, mas será que nos perguntamos o que isso significa?

É em busca de respostas nada fáceis, como a dessa pergunta, que a equipe do São Judas, referência de colégio na Mooca, em São Paulo, trabalha diariamente.

“Nesse tempo de transição, mudou o que a sociedade espera do processo educacional. Passamos pelo período da explosão da informatização e, agora, estamos focados na compreensão do ser humano como um indivíduo único. Não basta ser informado ou ter conhecimento. Buscamos saber dos sentimentos e das necessidades de cada um”, explica a diretora do Ensino Fundamental I e II.

Acompanhamento escolar no processo de aprendizagem, a importância do olho no olho

Conhecer aluno por aluno, no São Judas, não significa decorar seu nome ou o número de matrícula. É conhecer sua personalidade, saber o que pensa e o que sente, perguntar (sinceramente) como foi o fim de semana, acompanhar o desempenho nos estudos, saber identificar quando houve melhora ou piora no rendimento e, sempre, perceber se aquele estudante se sente bem onde está, com quem está e fazendo o que faz.

Esse cuidado começa na Educação Infantil, com os pequenos a partir de um ano e meio. A diretora dos pequenos, garante que todos recebem atendimento especial. Ela mede o sucesso do segmento que está sob seu comando pela alegria da criançada dentro da escola e pelos depoimentos vindos das famílias.

“Pais e mães sempre agradecem pelo carinho que seus filhos recebem”, conta.

Na hora de contratar as profissionais para compor sua equipe, a diretora se atenta não só para o currículo da aspirante à vaga.

“É importante que, além de uma excelente formação exigida, a professora seja também muito afetiva”, explica.

Relacionamento entre família e escola

Responda rápido: quando você pensa em saúde, o que passa pela sua cabeça?

A maioria das pessoas sempre relaciona a palavra a questões do corpo. Pouca gente se lembra que a mente – e a alma! – também precisam estar bem.

“Por isso, observar até mesmo sutilezas no comportamento é importante, pois o baixo rendimento escolar de um estudante pode estar diretamente ligado a um problema que ele está vivendo”, afirma Sineide Esteves Peinado, diretora da Educação Infantil e Ensino Fundamental (até o 7º Ano).

Além disso, sabemos também que crianças e jovens que crescem em ambientes onde há paz, respeito e harmonia se desenvolvem melhor em qualquer âmbito da vida – inclusive o escolar.

Por isso mesmo, o trabalho da equipe do São Judas é de proximidade afetiva com os alunos. Recentemente, devido ao vírus H1N1 (gripe suína), a volta às aulas foi adiada. Diferentemente de muitas escolas, em que os alunos dão pulos de alegria por não voltarem tão cedo, no São Judas, a caixa postal do e-mail da diretora Maria Conceição ficou lotada. “Muitos escreviam contando novidades, dizendo que estavam com saudades”, conta Conceição. “É um trabalho que demanda muita energia e uma dedicação absoluta, mas é muito gratificante”.

Essa relação estreita com os estudantes se dá não só com a direção e os professores, mas com todos os funcionários da escola. Erica Licastro, por exemplo, é supervisora administrativa do colégio e faz o primeiro vínculo com a família e com o aluno, pois é ela que os recepciona, mostra as dependências e faz a matrícula.

“Nos primeiros dias de aula, tem criança que procura a mim para dizer que está com dor de barriga. Não lido só com papel, lido com sentimentos, escuto histórias, auxilio, acolho”, afirma Erica.

O olho no olho, portanto, é um conceito fundamental para toda a equipe. Quem pensa que são só os mais novos que se aproximam dessa forma está enganado. No Ensino Médio, mudam o perfil e as necessidades dos alunos, mas a ligação é a mesma.

“Todo mundo gosta de ser bem tratado. Com os adolescentes, procuro conversar, ser firme quando necessário, mas sempre ter uma conversa franca, em particular, quando me procuram ou quando vejo que precisam”, afirma José Ribeiro Filho, diretor do Ensino Fundamental II (8º e 9º anos) e Ensino Médio.

Por isso, ele senta para ouvir histórias da vida de cada um, sabendo que suas atitudes têm um peso muito grande na formação dos jovens.

“Em vez de censurar, eu dou o exemplo. Recolho lata de refrigerante pelo pátio no intervalo. Eles observam e fazem o mesmo. Não preciso chamar atenção”, relata.

“A neurociência hoje mostra que será bem-sucedido o indivíduo que convive em um meio e com pessoas que o identificam pelo que ele é. A escola é um grande espaço social para os estudantes e é preciso que o nosso trabalho também seja embasado em conhecer e reconhecer o aluno, criando com ele afinidade”, diz Conceição.

Valores da escola, como ir além das notas

Dentro dessa perspectiva, o atendimento individual não se resume em saber o nome do estudante ou que nota ele tirou. “Numa redação, por exemplo, é importante ver se o texto tem coesão e coerência, mas a gente busca entender o que o aluno quis dizer com aquele trabalho dentro do contexto da sua vida”, diz Conceição.

“É mais do que a aprendizagem de conteúdos. Trata-se da aprendizagem afetiva”, completa.

Trabalhar numa linha humanista não é fácil, pois é preciso preparo da equipe pedagógica em várias áreas do conhecimento humano, como pedagogia, didática, psicologia e neurociência. Por outro lado, outras habilidades, que não se desenvolvem da noite para o dia, são importantes. Sensibilidade é a maior delas. É no olhar, num gesto, num sorriso, num comentário ou numa redação do estudante que o educador pode encontrar pistas para melhorar as aulas, identificar problemas e encontrar soluções.

O papel da família na escola

A questão emocional pesa tanto que até a perspectiva da família mudou. Antes, a primeira (e, talvez, única) pergunta que os pais faziam era sobre o conteúdo. “A escola é forte?”, perguntavam. Hoje, muitos ainda atentam, claro, à metodologia de ensino, mas também querem saber do ambiente, do projeto político-pedagógico da instituição.

No entanto, por mais que o cuidado com a educação dos filhos seja enorme, viver em uma cidade como São Paulo torna o cotidiano das famílias uma verdadeira correria. Por isso, atitudes simples podem fazer com que o ambiente acolhedor da escola se estenda para o familiar. Mas nem sempre é fácil.

O professor Ribeiro conta que, certa vez, entrou na sala do 3º ano do Ensino Médio para dar um aviso. Na primeira fileira estava um jovem de barba, com quem ele fez uma brincadeira. E o rapaz respondeu que não tinha feito a barba porque se cortava.

“Quando eu comecei a dar dicas a ele de como passar a lâmina, a classe toda parou. Foi espantoso ver que nenhum deles havia sido orientado sobre o assunto”, lembra.

Por isso, os pais podem ficar atentos para aproveitarem momentos simples do dia-a-dia, como esse, para conhecerem melhor seu filho. Estar por perto, buscar saber o que pensa e sente, e aproximar-se do colégio são ferramentas fundamentais. Afinal, se somos indivíduos únicos, não existem moldes ou receitas para partilhar o tempo.

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